Indústria da maconha na Califórnia espera ‘boom’ pós-legalização

Kristi espera que sua fábrica cresça 100% em 2017. Andrew comprou uma fazenda por US$ 10 milhões (R$ 32,7 mi) e vai abrir uma terceira loja nos próximos meses. Já Troy estima que o mercado nos EUA aumente de US$ 8 bilhões (R$ 26 bi) em 2016 para US$ 23 bilhões (R$ 75 bi) em quatro anos.

Bem-vindos ao maravilhoso mundo dos negócios da maconha legalizada.

Fonte: Folha

Ainda que considerada uma droga ilegal pelo governo federal, no mesmo nível que heroína, a maconha tem seu uso medicinal ou recreativo permitido em 28 Estados americanos. O maior deles, a Califórnia, legalizou-a para maiores de 21 anos em novembro, mas a venda só pode começar a partir de 2018, após discussões sobre regulamentações, impostos e emissão de licenças.

Até lá, os atuais comerciantes precisam se preparar. No Colorado, cuja população de 5 milhões votou pela legalização total em 2012, as empresas que fizeram a transição da droga medicinal para a recreativa (mesmo produto, licença diferente) viram a demanda crescer mais de cinco vezes. Na Califórnia, sexta economia mundial e com 40 milhões de habitantes, a expectativa é maior.

Kristi Knoblich, fundadora ao lado de seu marido da marca de chocolates com maconha Kiva, diz que sua empresa dobrou de tamanho a cada ano desde sua criação, em 2010. A marca é a segunda em vendas de comestíveis no Estado e produz também em Nevada e Arizona.

“Com o tempo, fica difícil dobrar o volume, mas esperamos fazê-lo em 2017”, disse Knoblich à Folha. “Estamos atrás de novas instalações. Cada vez que mudamos, ficamos sem espaço em pouco tempo. É um problema bom de se ter.”

A executiva também quer estar preparada para a concorrência que deve inundar a Califórnia nos próximos anos. “Damos as boas-vindas à competição. Quanto mais empresas respeitáveis, mais forte e legítima será nossa indústria”, disse Knoblich, que atende a cerca de mil lojas em três Estados e emprega 80 funcionários. “Há tolerância zero em relação a [um funcionário] ficar drogado no trabalho. Quando há degustações, deixamos água na mesa. Cuspimos e enxaguamos a boca.”

MEGALOJA

A Harborside, maior loja de maconha dos EUA, com receita anual de US$ 30 milhões (R$ 98 milhões), completou dez anos em 2016 e adquiriu uma fazenda de 47 acres no Estado, onde espera investir em plantações ao ar livre, coisa rara no mercado. “Estou animado com o futuro, mas é preciso dizer que não é fácil; é um negócio caro, perigoso. A quantidade de dinheiro que fazemos é praticamente a mesma que gastamos. Todo mundo na indústria está batalhando”, disse Andrew DeAngelo, diretor de operações da casa, que conta com 150 funcionários em dos endereços (Oakland e San Jose).

A administração de Donald Trump é um mistério para a indústria, embora ele tenha prometido em campanha delegar a questão para os Estados. Ainda assim, agentes federais podem fechar negócios, e a Receita pode causar estragos. Por causa do risco, grandes corporações mantêm distância do nicho.

“Enquanto as leis federais não mudarem, esta indústria é a melhor oportunidade para investidores e empresários de pequeno e médio porte, porque podem entrar num mercado multibilionário antes da chegada das grandes companhias e investidores institucionais”, acredita Troy Dayton, chefe executivo do Arcview Group, uma firma de investimentos em projetos relacionados a maconha, cujos 600 membros já desembolsaram mais de US$ 90 milhões (R$ 294,5 mi) em 135 firmas.

Entre as empresas financiadas estão uma rede social para entusiastas da planta, uma empresa de bebidas e um vaporizador com cápsulas da droga. “Muitos estão esperando para ver o que acontece com Trump. Aviso: vão chegar tarde à festa.”

A legalização da maconha foi celebrada de modo insólito no Réveillon, em Los Angeles: no dia 1º, o letreiro em que se lê Hollywood amanheceu com a inscrição “Hollyweed” (trocadilho com a gíria para maconha em inglês, “weed”). O autor da gaiatice foi filmado por câmeras de segurança e pode responder por invasão de propriedade.