Encontro Estadual Antiproibicionista – Uma Mesa, Um Grupo de Discussão… Umas fotos, umas aspas!

Hoje foi o segundo dia do Encontro Estadual Antiproibicionista do RJ. Mesa bem composta por (da direita para esquerda): Orlando Zacone, André Barros, o mediador foi nosso vlogger Tomazine, Mc PH e André Constantine. O primeiro a falar foi o delegado de polícia Civil, que brincou que já o chamam de Zoconha. Longe de ter um discurso de maconheiro para merecer o trocadilho, Zacone mais uma vez prendeu atenção do público ao lembrar o teor pesadamente racista da leis de drogas e defendeu abertamente a legalização não só da maconha, mas de todas as substancias hoje ilegais.

Durante o discurso o delegado buscou por ênfase na necessidade de se tratar o debate de forma honesta: “Quem defende só a legalização da maconha, não tenho nada contra quem pensa isso, mas essa pessoa não pode se dizer antiproibicionista”, defendeu. Ainda lembrou de pedir muito mais racionalidade e pé no chão ao debate. “Eu não acho que a maconha seja a erva do diabo, mas eu também não posso acreditar que a maconha cura câncer sem ter uma prova científica, porque senão eu estou no discurso sacro de droga do bem e droga do mal”, e ainda “porque eu cansei de ouvir quando era garoto que cachaça com limão curava gripe… esse é discurso dos cachaceiros”, lembrou.

Tomazine passou de “uma ponta pra outra”, passando a bola para  André Constantine, Militante do Movimento Favela Não Se Cala, dono da fala mais impactante da mesa. André chegou a se emocionar ao narrar a abusiva repressão da polícia com os moradores de comunidades. “Sabe como eles tavam revistando?! Mandando abrir a fralda dos bebês! Eu tenho uma filha, sabe o que isso significa?”, disse com olhos transbordando a mistura de raiva e vontade de revolução. Morador de favela protegida pela UPP, a opinião dele é clara sobre o projeto: “a coisa mais fascista que já vi na vida”, disse.

Na sequência MC PH Lima, militante do PSOL, já chegou mandando um funk no microfone. Nada de putaria nem ostentação, o tipo de canção entoada é do chamado Funk Combativo, aquele que mostra a realidade da periferia e serve como voz de toda uma população marginalizada. “Eu sou de São Gonçalo, lá do final, lá é o seguinte amigo, se nego percebe que tu fuma maconha, te matam – fazem limpeza… uma coisa eu tenho certeza, se legalizassem a maconha amanhã, quem ia deixar de morrer não seria os meus amigos playboys, mas sim quem mora lá do meu lado”, afirmou o jovem.

Por fim, quem enobreceu a mesa com sua fala sempre regada a irreverência e alegria, foi o doutor André Barros, advogado da Marcha da Maconha, lembrando mais uma vez que o caráter da guerra às drogas na verdade é um argumento e uma ferramenta para a perseguição de determinados tipos populacionais, o que explica a racista da proibição no mundo inteiro. Ele também lembrou a necessidade da luta contra o sistema financeiro e sua ideologia capitalista: “Como é que nós vamos derrubar esse sistema? O mundo inteiro avança na descriminalização da maconha, no debate anticapitalista, e eu acho que esse movimento(da legalização) é uma rachadura nesse sistema. Porque nós temos que destruir o sistema capitalista, mas também é preciso derrubar o sistema penal”, afirmou antes do fim da atividade do dia pela parte da manhã.

Cerca de cinquenta pessoas assistiram o debate que teve como ponto clímax a fala de um expectador nada feliz com os rumos da prosa entre os convidados da mesa. “O debate da legalização é importante? Talvez seja, mas eu não acho que ele deveria estar sendo tratado como prioridade, na verdade deveria estar nas últimas. Eu já estudei na Holanda, lá é legalizado, mas lá a polícia não dá tapa na cara de quem é pobre. A única vez que a burguesia sente o peso do despreparo da polícia é em relação à maconha. Se legalizarem, eles não vão nem querer saber mais desse problema”, disse em tom nervoso e foi pouco aplaudido. O delgado Zacone fez questão de responder e mostrar ao público a necessidade urgente da legalização justamente porque quem mais sofre com as políticas de proibição são as populações mais pobres, o que fez soar a forte onda de aplausos das mãos antiproibicionistas que a essa hora já estavam doidas para aperar um antes do almoço.

Durante a hora da larica rolou o grupo de discussão sobre “Mídia e Proibição”, que contou com coordenação do Cadu, autor do blog Hempadão, e especial colaboração do amigo Andrew, do Cultura Verde, e Carol, militante estudantil e ativista do Movimento pela Legalização da Maconha. A apresentação tentou provocar o debate fazendo a galera lembrar o quanto as mídias foram importantes para a consolidação do discurso e realidade proibicionista. Cerca de 20 pessoas participaram do grupo de debates e as propostas versaram basicamente sobre a maior união entre os coletivos além da necessidade de cada um produzir conteúdo a seu modo, construindo alternativas às mídias tradicionais onde o assunto maconha ainda é um tabu.