Em carta, líderes mundiais pedem fim da guerra às drogas

RIO — A poucos dias do início da Sessão Especial sobre drogas da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGASS 2016), marcada para ter início no próximo dia 19, uma carta com a assinatura de mais de mil líderes mundiais foi encaminhada ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pedindo uma reforma “nas políticas globais de controle de drogas”, ou o fim da chamada “guerra às drogas”.

Fonte: O Globo

“O regime de controle de drogas surgiu durante o século passado e resultou em desastrosas consequências para a saúde, para a segurança e para os direitos humanos internacionais”, diz o documento. “Focada sobretudo na criminalização e na punição, criou um vasto mercado ilícito, que enriqueceu organizações criminosas, corrompeu governos, exacerbou a violência, distorceu mercados e minou valores morais basilares de nossas sociedades”.

Do Brasil são 94 os signatários, como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o presidente da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), Paulo Gadelha; O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita; o diretor-executivo do Viva Rio, Rubem Cesar Fernandes; e Ilona Szabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé e coordenadora do secretariado da Comissão Global de Políticas sobre Drogas.

De outros países, assinam a carta personalidades como os ex-presidentes do México Ernesto Zedillo e Vicente Fox; o ex-presidente do Chile Ricardo Lagos; o ex-presidente da Colômbia César Gaviria Trujillo; o empresário Warren Buffett; o fundador do grupo Virgin, Richard Branson; os músicos Sting e Peter Gabriel; e os atores Michael Douglas, Gael Garcia Bernal e Jane Fonda.

— As políticas repressivas foram incapazes de reduzir a produção e o consumo de drogas; ao contrário: a abordagem militar de combate às drogas fortaleceu o crime organizado e tem causado problemas sociais, de saúde e segurança muito mais graves do que o consumo de droga em si — disse Ilona. — Muitos países já perceberam o erro e avançam em outro sentido. Mas ainda não é suficiente, precisamos de uma nova abordagem internacional que coloque a saúde, o bem-estar e os direitos humanos em primeiro lugar.

A coleta de assinaturas é uma iniciativa da Drug Policy Alliance, organização americana que luta contra a política da guerra às drogas nos EUA, com a descriminalização do uso e a promoção de tratamentos e redução de danos. “Governos devotaram recursos desproporcionais à repressão em vez de esforços para melhorar a condição humana”.

“A Humanidade não tem condições de arcar com os custos de insistir, em pleno século XXI, em políticas de drogas tão ineficientes e contraproducentes quanto as do século passado. Precisamos de uma nova resposta à questão das drogas, que seja baseada em evidências científicas, em compaixão, na saúde e nos direitos humanos”, insiste a carta.

— Nunca antes tantas vozes respeitáveis se uniram para pedir a tão fundamental reforma nas políticas de controle de drogas. E os signatários representam apenas uma pequena fração de lideranças políticas, acadêmicos, profissionais do direito e de forças de segurança, da saúde pública e das áreas de medicina, cultura, entretenimento, negócios e religião que concordariam com seu teor e o sentimento que ela expressa — destacou Ethan Naddleman, diretor executivo da Drug Policy Alliance.