Ascensão e queda da verdinha

por Rafael Moraes

Muito se especula a respeito do uso recreativo da Cannabis na Europa. Possivelmente o conhecimento dos europeus pela planta se dera através das rotas de comércio, em especial a Rota da Seda. Historiadores sugerem que a rotina “cannábica” nesse continente já era notória entre os celtas e tribos germânicas, principalmente os Vikings. Tanto era que a maioria dos tecidos usados pelos guerreiros nórdicos eram produtos do cânhamo, e ocasionalmente, reis e rainhas ou nobres de importância eram queimados junto a sementes de maconha. Mas foi no século IX que o “Marco Polo da Cannabis” mostrou as caras na Europa. Dr. William O’Shaughnessy, médico irlandês, foi o primeiro homem do continente que dedicou seu tempo ao estudo da Mary Jane .

O médico tivera seu primeiro contato com a planta como professor no Medical College of Calcutta. Em 1830, ele já estava na ativa testando compostos medicinais em animais. Não demorou muito tempo para que o entusiasmo tomasse conta: percebendo a eficiência e segurança do uso, William começou a administrar Cannabis para pacientes com dores, espasmos musculares e principalmente cólera fatal. Tal descoberta fascinou médicos ao redor do mundo, resultando em uma avalanche de pesquisas e investimento para que as propriedades benéficas da planta fossem trazidas à tona. Em 1893-1894, fora instituída a “Indian Hemp Drugs Commission”, a primeira farmacopéia européia que listava as injúrias remediadas com Cannabis, entre elas: cãibras, dores de cabeça, asma, diabetes, impotência, febre, perdas de apetite, e dores crônicas. No começo do século XX, a cultura Escandinava promovia o uso do “Maltos Cannabis”, um drinque a base da verdinha que dizia-se “curar todos os males”, e era popularmente tomado e recomendado às crianças e enfermos.

E não parou por aí: o sucesso da verdinha incentivou até as companhias farmacêuticas dos Estados Unidos. Em 1930, pelo menos 2 das maiores companhias estadunidenses de remédios – Parke Davis e Eli Lilly – já vendiam remédios a base de extratos de Cannabis para atenuar dores e agir como sedativo. Não bastasse a adesão da erva pela indústria farmacêutica, também era vendida como cigarro pela Grimault & Company para tratar asma. Infelizmente, todo triunfo tem sua queda: imediatamente após o sucesso dos medicamentos a base de maconha, surgiu a aspirina, um fármaco mais potente e eficiente. A Cannabis continuou a coexistir com a sociedade através do uso recreativo, majoritariamente dado por jazzistas e músicos conceituados.

Todos os progressos acadêmicos e medicinais em torno da planta desabaram em 1922, com a “Convenção Internacional do Ópio”, onde potências da época assinaram um contrato proibindo o comércio de ópio e cocaína, e mais tarde em 1928, fora incluída por pedido do Egito o haxixe. Em 1937 fora instituído (contra a recomendação da Associação Médica Americana) o “Ato Fiscal da Maconha de 1937”. Dali em diante, o uso e prescrição da verdinha foram reduzidos ao mínimo e seu uso em geral na sociedade, restringido ao máximo. Iniciou-se a época do retrocesso. Em 1942 a Cannabis era removida da United States Pharmacopoeia (USP) no pretexto de ser uma droga “aditiva” e “perigosa”. Começava então a guerra contra a Cannabis e outras drogas, motivada unicamente por interesses comerciais e preconceituosos.

Fontes:

https://books.google.com.br/books?id=y8T_Y0tmDskC&pg=PA59&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false

http://www.vindheim.net/hamp/hemp.html

https://books.google.com.br/books?id=ZriSkC7aQOEC&pg=PA15&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false