Antiguidade Canábica: Grécia, o Berço da Civilização Ocidental

por Rafael Moraes

Grécia, o berço da civilização ocidental! Dentre as diversas inovações concebidas pelos gregos, as mais proeminentes sem sombra de dúvida foram a Democracia, a Filosofia, a Historiografia, Matemática e as artes cênicas, com destaque para a tragédia e a comédia… E que tragédia seria se eu deixasse de transmitir aos leitores um elemento pouco debatido no meio Helênico: a importância da Mary Jane!

Fato é: as pesquisas acadêmicas no âmbito das substâncias alucinógenas e enteogênicos são negligenciadas, devido seu caráter ilícito e o crescente tabu alavancado pela sociedade. Não bastasse isso, o estudo em específico da Cannabis na antiguidade exige uma preservação delicada da planta, o que faz os historiadores contarem com o auxílio de textos e relatos. Muito se especula em torno do verdadeiro papel da maconha na sociedade grega, eis que apresento aqui tanto teorias como fatos verossímeis.

Primeiramente deve-se reconhecer que o contato dos gregos com a Cannabis foi dado pelos povos nativos dos estepes, em específico os Citas e os Trácios. Heródoto, em seu livro “História”, descreve a prática dos Citas de usar sementes de maconha em saunas ao invés de água após um funeral, produzindo um “riso incessante” nos mesmos e purificando-os de todos os males, um tipo de “Culto à morte”. Os Trácios foram mais além: seus xamãs faziam o uso de incensos de haxixe em rituais sagrados para se comunicar com o astral. Esses eram chamados de “Kapnobatai”, ou “Aqueles que andam na fumaça”.

O uso de Cannabis na Grécia Antiga iniciou-se com as mulheres. Acreditava-se que a planta, quando misturada com mirra e queimada como incenso, produziria uma fumaça afrodisíaca, um aspecto ideal para o culto à Afrodite. E bem… Acreditou-se certo! De fato a maconha estimula o apetite sexual (varia de usuário pra usuário, cada um com sua brisa!), e sendo Afrodite a deusa da sexualidade, a combinação de vinho e verdinha no templo de adoração à deidade resultou num bacanal sem proporções. Ressaltando: os gregos não possuíam pudor e muito menos limite no que diz respeito aos desejos sexuais! Digo isso porque, não satisfeitas com os efeitos do incenso de maconha, as mulheres ainda por cima passavam-na vagina! Fora toda orgia que rolava solta, o verdadeiro propósito da Cannabis no culto à Afrodite era a comunicação com a deusa, a qual instruía seus servos nas artes do amor (que brisa maluco!).

Hipóteses (isso mesmo, hipóteses e não certezas) sugerem que Dionísio, deus da intoxicação, estaria diretamente associado ao uso de alucinógenos, entre eles a maconha e o ópio. Porém, poucos vestígios históricos acerca deste tema remanescem na atualidade, e muitos são de veracidade questionável. O que se sabe por instancia é que os seguidores de Dionísio tinham o costume de se embriagar com vinho, e o álcool desse vinho não tinha a finalidade única de embebedar, mas também de preservar as diversas ervas e plantas que eram misturadas na bebida, dentre elas a mandrágora (afrodisíaco) e as folhas da Cannabis. Outro fato intrigante é a associação de Dionísio com Shiva: apesar do primeiro contato dos gregos com indianos ter ocorrido nas conquistas de Alexandre, ambos os deuses compartilhavam características similares, entre elas o tigre como montaria (como os gregos teriam conhecimento de um animal asiático?).

A nomenclatura da maconha na literatura grega também é uma prova de sua presença notável nesta sociedade. Alguns nomes incluem: Geolotophyllis (folhas da risada), Thymbra (planta queimável), e Astarion (folha estrela). Enfoque especial para Astarion, que recebeu esse nome pelo seu uso no culto à Hera, deusa dos céus. Dizia-se que ao inalar a fumaça da queima das folhas, o indivíduo entraria em contato com o “astral”.

E claro, não poderia faltar falar de uma das mais importantes obras literárias da história: A Odisséia. Homero, velhaco do jeito que era, não deixou de mencionar diversas drogas em seu épico, e uma delas sendo possivelmente a Cannabis. No capítulo IV, páginas 219-232 do livro, Helena (filha de Zeus) teria trazido uma planta oriunda do Egito que acabaria com qualquer dor ou sofrimento mundano. Muito possivelmente essa planta era nossa verdinha versão Indica, mas os acadêmicos se questionam quanto a isso: provavelmente seria ópio, e não maconha.

Não bastasse todo compêndio de mitos e tradições envolvidos com a Mary Jane, os gregos usavam-na para tratar edemas, inflamações e dores musculares. Fica aqui a dúvida: se até uma das civilizações mais proeminentes do mundo fizeram uso indiscriminado da Cannabis, porque tanto tabu e preconceito rodeando esse assunto atualmente?

Fontes:
https://www.youtube.com/watch?v=sTFCNEiugRM#t=38
http://classics.mit.edu/Herodotus/history.4.iv.html
http://www.lost-civilizations.net/scythians.html