O relatório do IOM afirmava também que “a teoria da porta de entrada é uma teoria social. Isto sugere que as qualidades farmacológicas da cannabis/maconha não a tornam um fator de risco em termos de progressão para o uso de outras drogas. Ao invés, é o estatuto legal da maconha que a torna uma droga-porta de entrada” Por outras palavras, a verdadeira “porta de entrada” para as drogas pesadas é a proibição da maconha, e não a maconha!
O IOM diz também que, apesar de investigações consideráveis, não se demonstrou que a marijuana ocasione lesões imunológicas em seres humanos. Apesar da sua obsessão com os perigos de fumar, o IOM foi obrigado a admitir que ainda não se provou que a maconha seja causadora de câncer do pulmão, ou qualquer outro tipo de tumor maligno.
Alison Smiley, investigador da Universidade de Toronto, realizou um estudo mostrando que a marijuana não contribui para os acidentes rodoviários. A monografia com as descobertas de Smiley foi apresentada num simpósio da Academia americana de Medicina Legal realizado na Florida em Fevereiro de 1999, sendo posteriormente publicada em Health Effects of Cannabis, uma edição do Centro para a Toxicodependência e Saúde Mental de Toronto, em Março de 1999.
Investigações recentes, realizadas em diversos países, sobre o nexo entre incapacitação para conduzir e acidentes rodoviários mostram que a marijuana tomada sozinha em quantidades moderadas não aumenta significativamente os riscos de condutor sob a sua influência causar um acidente — ao contrário do álcool, diz Smiley, que é professor-adjunto no departamento de engenharia mecânica e industrial. Enquanto fumar marijuana diminui de fato a capacidade de condução, não partilha o efeito que o álcool tem sobre o discernimento. Os condutores sob o efeito de marijuana mantêm-se conscientes da sua incapacitação, o que os faz abrandar e guiar mais cuidadosamente para compensar, explica Smiley.
“Os riscos para a segurança rodoviária de conduzir sob o efeito de marijuana são exagerados”,
— Alison Smiley, Universidade de Toronto
“Ambas as substâncias incapacitam a execução”, diz Smiley. “Porém, o comportamento mais cauteloso dos voluntários que receberam maconha faz decrescer o impacto da droga na execução. O comportamento que evidenciam é mais adequado para a sua incapacitação, enquanto os voluntários que receberam álcool tendem a conduzir de forma mais arriscada”.
Smiley diz que os seus resultados deviam ser considerados pelas instâncias que estão a debater testes obrigatórios de despistagem de drogas para operadores de equipamento de transporte tais como condutores de caminhões ou trens, ou a descriminalização da marijuana para uso médico. “Existe a suposição de que, por a marijuana ser ilegal, ela deve aumentar os riscos de acidentes. Devemos porém ater-nos aos fatos”.
Uma equipe liderada por cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) revelou a predominância de receptores de cannabinóides na retina, indicando um papel importante dos cannabinóides, uma família de compostos que inclui os componentes psicoativos da marijuana e do haxixe, na função retinal e talvez na visão em geral.
No número de 7 de Dezembro de 1999 das Atas da Academia Nacional de Ciências (PNAS), os pesquisadores da UCSD descreveram pela primeira vez a distribuição específica e efeitos na função retinal dos receptores celulares proteicos que são ativados pelos cannabinóides. Estas descobertas poderão vir a revelar um elo perdido nos esforços que visam decifrar a complicada e fascinante maquinaria através da qual a retina transforma a luz em informação significativa para o cérebro.
No número de Março de 2000 da revista Nature Medicine, uma equipe de investigadores das universidades Complutense e Autônoma, em Madrid, Espanha, divulgou as conclusões de um estudo realizado em ratazanas e ratos, anunciando que o ingrediente ativo da marijuana chamado THC matava células infectadas com tumores em casos avançados de glioma, uma rara variedade de câncer maligno que até agora foi 100 por cento fatal.
Os investigadores injetaram os compostos ativos, chamados cannabinóides, diretamente nos cânceres cerebrais. Manuel Guzmán, o investigador principal, diz: “Observamos um notável efeito inibidor do crescimento dos tumores”. O THC erradicou os tumores cerebrais num terço dos ratos tratados, e cerca de um terço deles viveram “significativamente mais tempo” do que os ratos a quem não foi administrada qualquer droga, alguns até três vezes mais.
Os estudos laboratoriais mostraram que o THC matava as células do glioma, deixando as células cerebrais normais intactas. A droga causava a acumulação de uma molécula gorda chamada ceramida, a qual provocava uma espiral mortífera nas células cancerosas.
Guzrnán, que testou o THC em doses muito baixas e numa fase tardia do tumor, quando os ratos não-tratados começavam já a morrer, predisse que o THC devia ser mais eficaz se fosse administrado mais cedo.*
*Em Fevereiro de 2001, foi recusado um subsídio 3 equipa de Gu/nuín p.tra proceder a investigações adicionais em seres humanos. (N. do T.)
Aparentemente, quanto mais investigações se fazem sobre o valor medicinal da marijuana, tanto mais se constata quão valiosa ela é como medicamento (para tromboses, tumores cancerígenos, glaucoma, esclerose múltipla, dores, náusea, como estimulador do apetite, relaxante muscular, e sabe-se lá que mais), Enquanto cidadãos, devemos exigir que sejam permitidas investigações sobre a
marijuana, Se ela permitir salvar uma vida que seja, ou mesmo melhorar a qualidade de vida de qualquer ser humano, este medicamento deve ser estudado. Devemos lançar borda fora todos os anos de falsa informação e desinformação e buscar a verdade.
Muitas pessoas garantiram-me que antes de usarem marijuana como medicamento sentiam que estavam a morrer de AIDS ou câncer, e todavia com o uso de marijuana como medicamento sentem que estão a viver com cancro ou AIDS.
No ano 2000, apesar de muitos acontecimentos no horizonte do cânhamo parecerem prometedores, a intransigência do governo e da DEA em manter tenazmente as leis absurdas e opressivas que Anslinger promulgou em 1937 continua a infligir dor e sofrimento a todos os americanos, apesar de uma sondagem recente da CNN indicar que 95% dos cidadãos americanos apoiam a legalização da marijuana médica! Uma sondagem anterior realizada na Califórnia mostrava que 40% dos inquiridos eram a favor da legalização do uso industrial, medicinal, nutricional e pessoal da marijuana por parte de adultos com mais de 21 anos.
A minha esperança fervorosa é que estejamos simplesmente a assistir à escuridão que antecede a inevitável madrugada.
Jack Herer
Los Angeles, Setembro de 2000
O OnJack publica, semanalmente, trechos da tradução do livro de Jack Herer, The Emperor Wears no Clothes.
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