A Indonésia é aqui

por  Thales Henrique Coelho

Com as mãos e pés amarrados, ele observava os homens fardados que agora tinham o poder sobre sua vida. Eram 10 ou 12, ele não sabia direito, tamanho era o pânico provocado pela quase certeza de que sua vida não duraria mais que alguns minutos. Armados de fuzis pesados, os soldados não exibiam qualquer expressão de nervosismo ou preocupação. Estavam mais que acostumados com a situação. E isso o aterrorizava.

Tamanha indiferença pela sua vida era justificada pelo ‘combate às drogas’ que escolhe algumas vítimas para serem bodes expiatórios. Eleitos como o “mal”, alguns traficantes, ou simples suspeitos, são executados em nome do “combate ao crime” para agradar uma parte da sociedade cega de ódio, preconceito e ignorância, enquanto os verdadeiros barões da droga descansam em suas mansões à beira-mar.

Todo esse pensamento não durou mais que dois minutos. Os militares pareciam decididos a executá-lo o quanto antes, afinal havia uma fila da morte. Apelos de outros nada adiantariam. Ele já conhecia bem esse jogo para ter essa certeza.

Então veio o barulho dos fuzis engatilhados. Pensou em sua mãe, na vida que havia levado antes desse momento. Os homens de farda apontaram e atiraram sem dó. A vida chegava ao fim.

Não, esse não é um relato sobre a execução do brasileiro Marco Archer, morto por fuzilamento pelo governo da Indonésia por ter tentado entrar no país com 13 kg de cocaína. Este é um relato genérico, de uma situação que ocorre todos os dias no Brasil, em que centenas de pessoas, suspeitos, traficantes ou mesmo totalmente inocentes, são sentenciados à morte em tribunais de rua comandados por PMs. Casos como o do menino de 12 anos morto pela polícia carioca quase no mesmo dia do fuzilamento na Indonésia.

A pena de morte já existe no Brasil

Na semana que se seguiu ao fuzilamento de Marco Archer, foi comum ver nas redes e nas ruas pessoas defendendo a pena de morte contra traficantes. “Tem que seguir o exemplo da Indonésia”, gritam, ignorando os milhões de problemas e a corrupção que lá consegue ser muito maior que a nossa. Bobinhos. Não sabem que estamos anos luz à frente da Indonésia no quesito execução de suspeitos.

Entre 2009 e 2013, as polícias brasileiras juntas mataram 11.197 pessoas. São cerca de 6 mortos por dia. A Indonésia deve ter inveja. Será que matar criminosos e suspeitos realmente melhora a situação da segurança? Acho que os números acima falam por si só.

Para refletir: conheçam o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que traz os dados alarmantes do resultado da política racista de guerra às drogas e de extermínio levada a cabo pelo estado brasileiro, com o apoio de grande parte da sociedade.

Se matar gente resolvesse alguma coisa, o Brasil seria o país mais seguro do mundo.